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quarta-feira, 3 de setembro de 2025

Resumo extraído do Capítulo 7 do livro: Elements of Electromagnetics — Sadiku & Matthew N. O., 7ed

Capítulo 7 - Campos Magnétostáticos


7.1 — Introdução

A secção apresenta o domínio da magnetostática: o estudo dos campos magnéticos gerados por correntes constantes (DC). Principais pontos:

  • Origem dos campos: ao contrário da electrostática (campos gerados por cargas estacionárias), os campos magnéticos estáticos são produzidos por correntes estacionárias (cargas em movimento com velocidade constante) — por exemplo, correntes de condutores, correntes de magnetização em ímanes permanentes, e feixes de electrões.

  • Quantidades fundamentais: introduz-se a comparação entre grandezas eléctricas e magnéticas (analogia EHE \leftrightarrow H, DBD \leftrightarrow B) e lembra-se a relação no vácuo

    B=μ0H,\mathbf{B}=\mu_0\mathbf{H},

    com μ0\mu_0 = permeabilidade do espaço livre.

  • Motivação prática: explica-se porque é importante a magnetostática (motores, transformadores, sensores, armazenamento magnético, levitação magnética, etc.).

  • Leis fundamentais que serão usadas: são enunciadas as duas leis principais da magnetostática — Lei de Biot–Savart (lei geral, análoga à lei de Coulomb) e Lei de Ampère (caso especial útil para distribuições com simetria).

  • Observação conceptual: prepara o leitor para ver semelhanças e diferenças entre campos eléctricos e magnéticos (por exemplo, os fluxos magnéticos fecham-se sempre — não existem monopolos magnéticos isolados).



7.2 — Lei de Biot–Savart

Apresenta a Lei de Biot–Savart, que dá o campo magnético diferencial devido a um elemento de corrente:

  • Enunciado (forma vetorial para H\mathbf{H}):

    dH=Idl×R^4πR2oudH=Idl×R4πR3,d\mathbf{H}=\frac{I\,d\mathbf{l}\times\mathbf{\hat{R}}}{4\pi R^{2}} \quad\text{ou}\quad d\mathbf{H}=\frac{I\,d\mathbf{l}\times\mathbf{R}}{4\pi R^{3}},


  • Interpretação física:

    • Direção de dHd\mathbf{H} dada pelo produto vetorial: regra da mão direita.

    • Dependência com a distância: 1/R21/R^2 em termo diferencial; após integração aparece a dependência característica para cada geometria.

  • Distribuições de corrente: a lei aplica-se a correntes lineares (IdlI\,d\mathbf l), superfícies de corrente (KdS\mathbf{K}\,dS) e volumes de corrente (JdV\mathbf{J}\,dV):

    H=14πlinhaIdl×RR3,H=14πsuperfK×RR3dS,H=14πvolJ×RR3dV.\mathbf{H}=\frac{1}{4\pi}\int_{\text{linha}}\frac{I\,d\mathbf{l}\times\mathbf{R}}{R^{3}}, \quad \mathbf{H}=\frac{1}{4\pi}\iint_{\text{superf}} \frac{\mathbf{K}\times\mathbf{R}}{R^{3}}\,dS, \quad \mathbf{H}=\frac{1}{4\pi}\iiint_{\text{vol}} \frac{\mathbf{J}\times\mathbf{R}}{R^{3}}\,dV.
  • Exemplos trabalhados (formas fechadas obtidas por integração):

    • Fio rectilíneo finito (distância radial rr, ângulos α1,α2\alpha_1,\alpha_2 subtendidos em relação ao ponto):

      H=I4πr(cosα1cosα2)aφ.\mathbf{H}=\frac{I}{4\pi r}(\cos\alpha_1-\cos\alpha_2)\,\mathbf{a}_\varphi.

      Casos particulares:

      • fio semi-infinito: H=I4πraφH=\dfrac{I}{4\pi r}\,\mathbf{a}_\varphi.

      • fio infinito: H=I2πraφH=\dfrac{I}{2\pi r}\,\mathbf{a}_\varphi.

    • Espira circular: resultado para o eixo da espira; componente axial não nula, componente radial cancela por simetria.

    • Solenóide: integração das espiras leva à fórmula axial, e no centro de um solenóide longo obtém-se H=nIH=nI (com nn espiras por unidade de comprimento).

  • Observações práticas:

    • Biot–Savart é geral mas pode exigir integrais complicados; é útil quando não há simetria suficiente para Ampère.

    • A lei mostra explícito o papel do produto vetorial — a orientação do elemento de corrente influencia fortemente o campo resultante.


7.3 — Lei de Ampère 

Esta secção introduz a Lei de Ampère e a sua forma diferencial, ligando-a às equações de Maxwell para campos estáticos.

  • Forma integral (Lei de Ampère):

    CHdl=Ienc,\oint_{C}\mathbf{H}\cdot d\mathbf{l}=I_{\text{enc}},

    o integral de linha do campo magnético ao longo de uma curva fechada CC é igual à corrente total incluída pela superfície limite dessa curva.

  • Forma diferencial (equação de Maxwell):
    Aplicando o Teorema de Stokes obtém-se

    ×H=J,\nabla\times\mathbf{H}=\mathbf{J},

    em magnetostática (correntes estacionárias). Esta é uma das equações de Maxwell para campos estáticos.

  • Quando usar Ampère:

    • É extremamente útil quando existe simetria (cilíndrica, planar, toroidal) que permite escolher um caminho amperiano em que H|\mathbf{H}| é constante sobre o caminho ou perpendicular a partes do mesmo, simplificando o integral.

  • Exemplos clássicos resolvidos com Ampère:

    1. Fio infinito: ao tomar um caminho circular concêntrico obtemos

      H=I2πraφ,H=\frac{I}{2\pi r}\,\mathbf{a}_\varphi,

      compatível com Biot–Savart.

    2. Plano infinito de corrente com densidade superficial K\mathbf{K}: campo uniforme dos dois lados com salto 12K×n\tfrac{1}{2}\mathbf{K}\times\mathbf{n}.

      • Resultado geral para plano infinito: H=12K×an\mathbf{H}=\tfrac{1}{2}\,\mathbf{K}\times\mathbf{a}_n 

    3. Linha coaxial (condutor concêntrico) e regiões internas/externas: Ampère permite obter HH por regiões dependendo da corrente incluída.

    4. Toroide: Amperiana circular dá H=NI2πrH=\dfrac{NI}{2\pi r} no interior (fora do toroide H0H\approx 0).

  • Propriedade física importante:

    • Ao contrário do campo eléctrico electrostático (onde ×E=0\nabla\times\mathbf{E}=0), o campo magnético não é conservativo em geral: ×H=J0\nabla\times\mathbf{H}=\mathbf{J}\neq 0 nas regiões com corrente.

  • Ligação a B\mathbf{B}:
    B=μ0H\mathbf{B}=\mu_0\mathbf{H} no espaço livre; portanto as expressões para H\mathbf{H} traduzem-se directamente em B\mathbf{B} multiplicando por μ0\mu_0.

  • Limitações e observações:

    • Ampère é uma ferramenta poderosa mas quando a simetria permite simplificar o integral; caso contrário recorre-se a Biot–Savart ou ao potencial vectorial.

    • Ampère mostra o papel topológico das correntes (a circulação do campo depende apenas da corrente incluída na superfície limitada).


7.4 — Aplicações da Lei de Ampère

Esta secção aplica a Lei de Ampère a distribuições de corrente com simetria, mostrando como escolher caminhos amperianos (curvas fechadas) que simplificam o cálculo da circulação de H. Principais resultados e exemplos:

  • Forma integral (recordar):

    CHdl=Ienc.\oint_{C}\mathbf{H}\cdot d\mathbf{l}=I_{\text{enc}}.

    Aplicando o Teorema de Stokes obtém-se a forma diferencial ×H=J\nabla\times\mathbf{H}=\mathbf{J}.

  • Fio infinito — simetria cilíndrica: escolhendo um caminho circular concêntrico obtemos

    Hφ=I2πr(H=Hφaφ),H_\varphi=\frac{I}{2\pi r}\quad(\mathbf{H}=H_\varphi\,\mathbf{a}_\varphi),

    onde rr é a distância radial ao eixo do fio. Resultado consistente com Biot–Savart.

  • Plano infinito de corrente com densidade superficial K\mathbf{K} ao longo de ay \mathbf{a}_y é

    H=±12K×an,\mathbf{H}=\pm\frac{1}{2}\,\mathbf{K}\times\mathbf{a}_n,

    onde an\mathbf{a}_n é o vector normal apontando do plano para o ponto considerado — o sinal depende do lado.

  • Linha coaxial infinita: considerando correntes distribuídas uniformemente nas regiões do condutor interno e externo, aplica-se Ampère por regiões radiais e obtêm-se expressões por partes para HH:

    • 0ra0\le r\le a: H=Ir2πa2H=\dfrac{I r}{2\pi a^2} (corrente distribuída no interior do condutor interno);

    • arba\le r\le b: H=I2πrH=\dfrac{I}{2\pi r} (região entre os condutores — campo como fio externo);

    • brb+tb\le r\le b+t: expressão que inclui a fração da corrente contida na parte do condutor externo atravessada pela amperiana;

    • rb+tr\ge b+t: H=0H=0 (fora do conjunto quando correntes interna e externa se anulam). Detalhes e a fórmula completa por regiões estão desenvolvidos na secção.

  • Toroide: para um toroide com NN espiras e corrente II, a amperiana circular de raio rr

    Hφ=NI2πrH_\varphi=\frac{NI}{2\pi r}

    no interior do toroide; exteriormente H0H\approx 0. Este resultado mostra por que o toroide confina o campo magnético.

  • Solenóide longo: somando as contribuições das espiras por unidade de comprimento obtém-se, no interior aproximado de um solenóide longo,

    H=nI(com n espiras por unidade de comprimento).H=nI\quad\text{(com \(n\) espiras por unidade de comprimento).}

    Fora do solenóide o campo é (em muitas aproximações) desprezável.



7.5 — Densidade de fluxo magnético
B — equação de Maxwell

Esta secção introduz a densidade de fluxo magnético B\mathbf{B}, explica a sua relação com H\mathbf{H} em espaço livre e discute propriedades geométricas do fluxo magnético.

  • Relação entre B\mathbf{B} e H\mathbf{H} (no espaço livre):

    B=μ0H,\mathbf{B}=\mu_0\mathbf{H},

    onde μ0=4π×107 H/m\mu_0=4\pi\times10^{-7}\ \mathrm{H/m} é a permeabilidade do espaço livre.

  • Fluxo magnético através de uma superfície SS:

    Ψ=SBdS(unidade: weber, Wb).\Psi=\iint_{S}\mathbf{B}\cdot d\mathbf{S}\quad(\text{unidade: weber, Wb}).

    Linhas de fluxo magnético são trajectórias tangenciais a B\mathbf{B} em cada ponto (a bússola orienta-se ao longo destas linhas).

  • Propriedade topológica importantenão existem monopólos magnéticos isolados:

    SBdS=0B=0.\oint_{S}\mathbf{B}\cdot d\mathbf{S}=0 \quad\Longrightarrow\quad \nabla\cdot\mathbf{B}=0.

    Isto significa que as linhas de B\mathbf{B} são sempre fechadas (não têm início nem fim) — contraste com linhas de D\mathbf{D} que podem emergir de cargas.

  • Conceitos de potencial magnético: a secção prepara a motivação para usar potenciais (escalar VmV_m quando J=0\mathbf{J}=0, e vectorial A\mathbf{A} em geral), relacionando B\mathbf{B} com o rotacional do potencial vetorial:

    B=×A,\mathbf{B}=\nabla\times\mathbf{A},



7.6 — Equações de Maxwell para campos estáticos

A secção reúne as quatro equações de Maxwell na forma apropriada para campos eléctricos e magnéticos estáticos (magnetostática + electrostática), tanto na forma diferencial como integral, e introduz os potenciais magnéticos.

  • As quatro equações (formas diferencial e integral, para o caso estático)

    • Gauss (electricidade):

      D=ρvSDdS=Qenc.\nabla\cdot\mathbf{D}=\rho_v \qquad\Longleftrightarrow\qquad \oint_{S}\mathbf{D}\cdot d\mathbf{S}=Q_{\text{enc}}.
    • Não-existência de monopólos magnéticos:

      B=0SBdS=0.\nabla\cdot\mathbf{B}=0 \qquad\Longleftrightarrow\qquad \oint_{S}\mathbf{B}\cdot d\mathbf{S}=0.
    • Electrostática (conservatividade de E\mathbf{E}):

      ×E=0CEdl=0.\nabla\times\mathbf{E}=0 \qquad\Longleftrightarrow\qquad \oint_{C}\mathbf{E}\cdot d\mathbf{l}=0.
    • Ampère (magnetostática, forma diferencial):

      ×H=JCHdl=SJdS.\nabla\times\mathbf{H}=\mathbf{J} \qquad\Longleftrightarrow\qquad \oint_{C}\mathbf{H}\cdot d\mathbf{l}=\int_{S}\mathbf{J}\cdot d\mathbf{S}.

    Estas expressões aparecem compiladas na Tabela 7.2 do capítulo.


Resumo 

O capítulo apresenta a magnetostática: leis que descrevem como correntes eléctricas constantes geram campos magnéticos estáticos e as ferramentas para os calcular. 

  • Biot–Savart (forma diferencial e integral) — campo devido a um elemento de corrente:

    dH=Idl×R4πR3,H=14πIdl×RR3.d\mathbf{H}=\frac{I\,d\mathbf{l}\times\mathbf{R}}{4\pi R^{3}},\qquad \mathbf{H}=\frac{1}{4\pi}\int\frac{I\,d\mathbf{l}\times\mathbf{R}}{R^{3}}.

    Aplicável a correntes lineares, superficiais e volumétricas.

  • Lei de Ampère (integral) — circulação do campo magnético:

    CHdl=Ienc,\oint_C\mathbf{H}\cdot d\mathbf{l}=I_{\text{enc}},

    com a forma diferencial ×H=J\nabla\times\mathbf{H}=\mathbf{J}. Útil quando existe simetria (fios infinitos, folhas infinitas, solenóides, toroides, condutores concêntricos).

  • Relação B\mathbf{B}H\mathbf{H}:

    B=μ0H(no espaç¸o livre),B=0\mathbf{B}=\mu_0\mathbf{H}\quad(\text{no espaço livre}),\qquad \nabla\cdot\mathbf{B}=0


  • Potenciais magnéticos:

    • Potencial escalar VmV_m — válido apenas em regiões sem corrente (J=0\mathbf{J}=0) com H=Vm\mathbf{H}=-\nabla V_m e 2Vm=0\nabla^2 V_m=0.

    • Potencial vectorial A\mathbf{A} — geral, B=×A\mathbf{B}=\nabla\times\mathbf{A}; (p.ex. Coulomb: A=0\nabla\cdot\mathbf{A}=0) conduz a 2A=μ0J\nabla^2\mathbf{A}=-\mu_0\mathbf{J}.

Resultados práticos destacados (fórmulas de referência)

  • Fio retilíneo infinito:

    Hφ=I2πr.H_\varphi=\frac{I}{2\pi r}.
  • Espira circular (eixo): expressão para a componente axial (obtida por integração de Biot–Savart).

  • Solenóide longo (interior):

    H=nIB=μ0nI.H=nI \quad\Rightarrow\quad B=\mu_0 n I.
  • Toroide:

    H=NI2πr(no interior do toroide).H=\frac{NI}{2\pi r}\quad\text{(no interior do toroide)}.
  • Plano de corrente infinita:

    H=±12K×n(campo dos dois lados).\mathbf{H}=\pm\frac{1}{2}\mathbf{K}\times\mathbf{n}\quad(\text{saltos de campo dos dois lados}).

Estas fórmulas são as ferramentas de referência para problemas práticos em magnetostática.

Observações finais e ligação a regimes não-estáticos

  • Para problemas sem simetria usa-se Biot–Savart ou a formulação por potenciais (especialmente A\mathbf{A}).

  • As equações de divergência (D=ρ\nabla\cdot\mathbf{D}=\rho, B=0\nabla\cdot\mathbf{B}=0) mantêm-se para campos dependentes do tempo; as equações de rotacional são modificadas quando aparecem termos temporais (p.ex. deslocamento eléctrico) — isso é tratado mais adiante em capítulos sobre campos dependentes do tempo.



Capítulo 7 do livro: Elements of Electromagnetics — Sadiku & Matthew N. O., 7ed


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