Capítulo 7 - Campos Magnétostáticos
7.1 — Introdução
A secção apresenta o domínio da magnetostática: o estudo dos campos magnéticos gerados por correntes constantes (DC). Principais pontos:
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Origem dos campos: ao contrário da electrostática (campos gerados por cargas estacionárias), os campos magnéticos estáticos são produzidos por correntes estacionárias (cargas em movimento com velocidade constante) — por exemplo, correntes de condutores, correntes de magnetização em ímanes permanentes, e feixes de electrões.
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Quantidades fundamentais: introduz-se a comparação entre grandezas eléctricas e magnéticas (analogia , ) e lembra-se a relação no vácuo
com = permeabilidade do espaço livre.
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Motivação prática: explica-se porque é importante a magnetostática (motores, transformadores, sensores, armazenamento magnético, levitação magnética, etc.).
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Leis fundamentais que serão usadas: são enunciadas as duas leis principais da magnetostática — Lei de Biot–Savart (lei geral, análoga à lei de Coulomb) e Lei de Ampère (caso especial útil para distribuições com simetria).
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Observação conceptual: prepara o leitor para ver semelhanças e diferenças entre campos eléctricos e magnéticos (por exemplo, os fluxos magnéticos fecham-se sempre — não existem monopolos magnéticos isolados).
7.2 — Lei de Biot–Savart
Apresenta a Lei de Biot–Savart, que dá o campo magnético diferencial devido a um elemento de corrente:
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Enunciado (forma vetorial para ):
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Interpretação física:
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Direção de dada pelo produto vetorial: regra da mão direita.
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Dependência com a distância: em termo diferencial; após integração aparece a dependência característica para cada geometria.
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Distribuições de corrente: a lei aplica-se a correntes lineares (), superfícies de corrente () e volumes de corrente ():
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Exemplos trabalhados (formas fechadas obtidas por integração):
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Fio rectilíneo finito (distância radial , ângulos subtendidos em relação ao ponto):
Casos particulares:
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fio semi-infinito: .
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fio infinito: .
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Espira circular: resultado para o eixo da espira; componente axial não nula, componente radial cancela por simetria.
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Solenóide: integração das espiras leva à fórmula axial, e no centro de um solenóide longo obtém-se (com espiras por unidade de comprimento).
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Observações práticas:
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Biot–Savart é geral mas pode exigir integrais complicados; é útil quando não há simetria suficiente para Ampère.
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A lei mostra explícito o papel do produto vetorial — a orientação do elemento de corrente influencia fortemente o campo resultante.
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7.3 — Lei de Ampère
Esta secção introduz a Lei de Ampère e a sua forma diferencial, ligando-a às equações de Maxwell para campos estáticos.
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Forma integral (Lei de Ampère):
o integral de linha do campo magnético ao longo de uma curva fechada é igual à corrente total incluída pela superfície limite dessa curva.
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Forma diferencial (equação de Maxwell):
Aplicando o Teorema de Stokes obtém-seem magnetostática (correntes estacionárias). Esta é uma das equações de Maxwell para campos estáticos.
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Quando usar Ampère:
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É extremamente útil quando existe simetria (cilíndrica, planar, toroidal) que permite escolher um caminho amperiano em que é constante sobre o caminho ou perpendicular a partes do mesmo, simplificando o integral.
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Exemplos clássicos resolvidos com Ampère:
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Fio infinito: ao tomar um caminho circular concêntrico obtemos
compatível com Biot–Savart.
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Plano infinito de corrente com densidade superficial : campo uniforme dos dois lados com salto .
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Resultado geral para plano infinito:
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Linha coaxial (condutor concêntrico) e regiões internas/externas: Ampère permite obter por regiões dependendo da corrente incluída.
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Toroide: Amperiana circular dá no interior (fora do toroide ).
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Propriedade física importante:
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Ao contrário do campo eléctrico electrostático (onde ), o campo magnético não é conservativo em geral: nas regiões com corrente.
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Ligação a :
no espaço livre; portanto as expressões para traduzem-se directamente em multiplicando por . -
Limitações e observações:
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Ampère é uma ferramenta poderosa mas só quando a simetria permite simplificar o integral; caso contrário recorre-se a Biot–Savart ou ao potencial vectorial.
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Ampère mostra o papel topológico das correntes (a circulação do campo depende apenas da corrente incluída na superfície limitada).
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7.4 — Aplicações da Lei de Ampère
Esta secção aplica a Lei de Ampère a distribuições de corrente com simetria, mostrando como escolher caminhos amperianos (curvas fechadas) que simplificam o cálculo da circulação de H. Principais resultados e exemplos:
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Forma integral (recordar):
Aplicando o Teorema de Stokes obtém-se a forma diferencial .
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Fio infinito — simetria cilíndrica: escolhendo um caminho circular concêntrico obtemos
onde é a distância radial ao eixo do fio. Resultado consistente com Biot–Savart.
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Plano infinito de corrente com densidade superficial ao longo de é
onde é o vector normal apontando do plano para o ponto considerado — o sinal depende do lado.
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Linha coaxial infinita: considerando correntes distribuídas uniformemente nas regiões do condutor interno e externo, aplica-se Ampère por regiões radiais e obtêm-se expressões por partes para :
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: (corrente distribuída no interior do condutor interno);
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: (região entre os condutores — campo como fio externo);
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: expressão que inclui a fração da corrente contida na parte do condutor externo atravessada pela amperiana;
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: (fora do conjunto quando correntes interna e externa se anulam). Detalhes e a fórmula completa por regiões estão desenvolvidos na secção.
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Toroide: para um toroide com espiras e corrente , a amperiana circular de raio dá
no interior do toroide; exteriormente . Este resultado mostra por que o toroide confina o campo magnético.
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Solenóide longo: somando as contribuições das espiras por unidade de comprimento obtém-se, no interior aproximado de um solenóide longo,
Fora do solenóide o campo é (em muitas aproximações) desprezável.
7.5 — Densidade de fluxo magnético
— equação de Maxwell
Esta secção introduz a densidade de fluxo magnético , explica a sua relação com em espaço livre e discute propriedades geométricas do fluxo magnético.
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Relação entre e (no espaço livre):
onde é a permeabilidade do espaço livre.
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Fluxo magnético através de uma superfície :
Linhas de fluxo magnético são trajectórias tangenciais a em cada ponto (a bússola orienta-se ao longo destas linhas).
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Propriedade topológica importante — não existem monopólos magnéticos isolados:
Isto significa que as linhas de são sempre fechadas (não têm início nem fim) — contraste com linhas de que podem emergir de cargas.
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Conceitos de potencial magnético: a secção prepara a motivação para usar potenciais (escalar quando , e vectorial em geral), relacionando com o rotacional do potencial vetorial:
7.6 — Equações de Maxwell para campos estáticos
A secção reúne as quatro equações de Maxwell na forma apropriada para campos eléctricos e magnéticos estáticos (magnetostática + electrostática), tanto na forma diferencial como integral, e introduz os potenciais magnéticos.
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As quatro equações (formas diferencial e integral, para o caso estático):
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Gauss (electricidade):
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Não-existência de monopólos magnéticos:
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Electrostática (conservatividade de ):
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Ampère (magnetostática, forma diferencial):
Estas expressões aparecem compiladas na Tabela 7.2 do capítulo.
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Resumo
O capítulo apresenta a magnetostática: leis que descrevem como correntes eléctricas constantes geram campos magnéticos estáticos e as ferramentas para os calcular.
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Biot–Savart (forma diferencial e integral) — campo devido a um elemento de corrente:
Aplicável a correntes lineares, superficiais e volumétricas.
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Lei de Ampère (integral) — circulação do campo magnético:
com a forma diferencial . Útil quando existe simetria (fios infinitos, folhas infinitas, solenóides, toroides, condutores concêntricos).
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Relação –:
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Potenciais magnéticos:
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Potencial escalar — válido apenas em regiões sem corrente () com e .
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Potencial vectorial — geral, ; (p.ex. Coulomb: ) conduz a .
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Resultados práticos destacados (fórmulas de referência)
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Fio retilíneo infinito:
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Espira circular (eixo): expressão para a componente axial (obtida por integração de Biot–Savart).
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Solenóide longo (interior):
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Toroide:
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Plano de corrente infinita:
Estas fórmulas são as ferramentas de referência para problemas práticos em magnetostática.
Observações finais e ligação a regimes não-estáticos
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Para problemas sem simetria usa-se Biot–Savart ou a formulação por potenciais (especialmente ).
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As equações de divergência (, ) mantêm-se para campos dependentes do tempo; as equações de rotacional são modificadas quando aparecem termos temporais (p.ex. deslocamento eléctrico) — isso é tratado mais adiante em capítulos sobre campos dependentes do tempo.