Capítulo 3 – Modelos Matemáticos para Sistemas Mecânicos e para Sistemas Elétricos
3–1 INTRODUÇÃO
Esta secção introduz o objectivo e o conteúdo geral do Capítulo 3, que trata da modelação matemática de sistemas mecânicos e eléctricos no contexto de engenharia de controlo.
No capítulo anterior (Capítulo 2), foram apresentados exemplos muito simples: um circuito eléctrico básico e um sistema mecânico elementar. Esses exemplos serviram para introduzir as ideias fundamentais de modelação. Agora, o propósito é generalizar e sistematizar o processo de modelação, aplicando-o a sistemas mais realistas e variados que se encontram com frequência em problemas de controlo.
O objectivo principal é mostrar como se podem obter modelos matemáticos de sistemas físicos que descrevam a sua dinâmica, ou seja, como a saída ou estado do sistema evolui em resposta a entradas ou forças actuantes. Esses modelos matemáticos podem depois ser usados para:
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Análise do comportamento dinâmico (por exemplo, estabilidade, resposta transitória).
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Projecto e síntese de controladores (compensadores, realimentação de estados).
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Simulação computacional.
Os dois domínios principais que serão estudados:
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Sistemas mecânicos, cuja dinâmica é governada pela segunda lei de Newton. Na Secção 3–2, será feita a aplicação directa dessa lei para derivar modelos de sistemas mecânicos mais complexos, incluindo a dedução de funções de transferência (que relacionam entrada e saída no domínio de Laplace) e modelos em espaço de estados (representação em termos de variáveis de estado e equações diferenciais de primeira ordem).
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Sistemas eléctricos, cujo comportamento segue as leis de Kirchhoff (lei das correntes e lei das tensões). A Secção 3–3 apresentará como aplicar estas leis a diferentes circuitos eléctricos, incluindo circuitos com resistências, bobines, condensadores e amplificadores operacionais (AmpOps), componentes muito usados em circuitos de controlo, filtros e compensadores.
3–2 MODELAÇÃO MATEMÁTICA DE SISTEMAS MECÂNICOS
A Secção 3–2 apresenta métodos sistemáticos para obter modelos matemáticos de sistemas mecânicos, fundamentais para o projecto e análise de sistemas de controlo. A abordagem baseia-se directamente na segunda lei de Newton, que relaciona forças com acelerações.
Molas em paralelo e em série
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Apresenta como determinar a constante de mola equivalente (keq) para arranjos de molas:
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Em paralelo: as constantes somam-se directamente (keq = k₁ + k₂).
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Em série: a constante equivalente obtém-se pela fórmula do tipo resistência em paralelo (1/keq = 1/k₁ + 1/k₂).
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O Exemplo 3–1 mostra como deduzir estas fórmulas analisando as forças e deslocamentos nos sistemas representados em figuras.
Amortecedores em paralelo e em série
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Um amortecedor é descrito como um amortecedor viscoso (óleo), gerando força proporcional à velocidade relativa.
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Para amortecedores:
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Em paralelo: o coeficiente de atrito viscoso equivalente soma-se (beq = b₁ + b₂).
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Em série: aplica-se a fórmula de resistências em paralelo (1/beq = 1/b₁ + 1/b₂).
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Exemplo 3–2 detalha estas deduções, mostrando como obter beq a partir de balanços de forças.
Sistema massa–mola–amortecedor montado num carro sem massa
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Analisa um sistema com uma massa m, mola de constante k e amortecedor de coeficiente b, montado num carro considerado sem massa.
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Define-se a entrada como o deslocamento do carro (u(t)) e a saída como o deslocamento da massa (y(t)).
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Aplica-se a segunda lei de Newton para escrever a equação diferencial:
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A transformada de Laplace (assumindo condições iniciais nulas) permite obter a função de transferência:
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O texto explica que estas representações em função de transferência são amplamente usadas em engenharia de controlo.
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Em seguida, apresenta um modelo em espaço de estados para o mesmo sistema:
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Define variáveis de estado.
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Deduz as equações de estado e a equação de saída.
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Mostra como expressar o sistema na forma matricial padrão.
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Sistema mecânico com duas massas ligadas
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Exemplo 3–4 analisa um sistema com duas massas (m₁ e m₂) ligadas por molas e amortecedores.
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Deriva as equações diferenciais que descrevem os movimentos relativos.
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Aplica a transformada de Laplace para obter funções de transferência que relacionam entradas e saídas (forças aplicadas e deslocamentos das massas).
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Mostra como resolver sistemas de equações no domínio de Laplace para obter essas funções.
Pêndulo invertido montado num carro
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Exemplo 3–5 estuda um pêndulo invertido (modelo clássico em controlo), montado num carro com motor.
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O objectivo do sistema é manter o pêndulo na vertical, o que é naturalmente instável.
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Considera deslocamentos angulares pequenos para linearizar as equações:
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Usa aproximações como sen(u) ≈ u e cos(u) ≈ 1.
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Deriva as equações de movimento usando a segunda lei de Newton para a translação e rotação.
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Obtém um modelo matemático que descreve o acoplamento entre o movimento do carro e o ângulo do pêndulo:
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Estas equações descrevem a dinâmica acoplada do carro e do pêndulo.
Pêndulo invertido com massa concentrada no topo
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Exemplo 3–6 simplifica o modelo anterior assumindo que a massa do pêndulo está toda no topo (momento de inércia I ≈ 0).
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As equações tornam-se mais simples:
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Deriva uma função de transferência do ângulo do pêndulo em relação à força de controlo aplicada ao carro.
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Mostra que o sistema tem pólos reais, um no semi-eixo positivo (indicando instabilidade em malha aberta).
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Define variáveis de estado (x, ẋ, θ, θ̇) para obter uma representação em espaço de estados completa com matriz A (dinâmica), matriz B (entrada) e matriz C (saída)
3–3 MODELAÇÃO MATEMÁTICA DE SISTEMAS ELÉCTRICOS
Esta secção apresenta métodos para obter modelos matemáticos de sistemas eléctricos, baseando-se nas leis fundamentais que regem os circuitos eléctricos: as leis de Kirchhoff.
Leis de Kirchhoff
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Lei das correntes (lei dos nós): a soma algébrica das correntes que entram e saem de um nó é zero.
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Lei das tensões (lei das malhas): a soma algébrica das tensões em qualquer malha fechada é zero.
Estas leis são aplicadas para escrever equações diferenciais que descrevem o comportamento de circuitos eléctricos. A partir dessas equações diferenciais, obtêm-se funções de transferência e modelos em espaço de estados.
Modelação de um circuito LRC
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Considere um circuito em série com indutância L, resistência R e capacitância C.
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Aplicando a lei das tensões de Kirchhoff, obtém-se uma equação diferencial que relaciona a corrente i(t) com as tensões de entrada ei(t) e saída eo(t).
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Equações diferenciais:
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A transformada de Laplace (assumindo condições iniciais nulas) permite obter a função de transferência:
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Também se apresenta um modelo em espaço de estados, definindo variáveis de estado adequadas para expressar o sistema como um conjunto de equações diferenciais de primeira ordem.
Funções de Transferência em circuitos RC em cascata com efeito de carga
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Analisa-se um sistema formado por duas malhas RC ligadas em cascata.
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Mostra-se que a ligação em cascata causa efeito de carga: o segundo circuito "carrega" o primeiro, afectando o seu comportamento.
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São deduzidas as equações diferenciais e as transformadas no domínio de Laplace, mostrando que a função de transferência global não é simplesmente o produto das funções de transferência individuais dos estágios.
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Explica-se matematicamente como surge o termo extra no denominador (representando a interacção entre os estágios).
Impedâncias complexas
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Introduz-se o conceito de impedância complexa no domínio de Laplace:
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Resistor: R.
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Indutor: LS.
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Condensador: 1/(CS).
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As impedâncias em série somam-se, e em paralelo combinam-se como resistências equivalentes.
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Usando impedâncias complexas, pode-se obter directamente a função de transferência sem resolver as equações diferenciais originais.
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Exemplo:
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Esta abordagem simplifica muito a análise de circuitos lineares.
Elementos em cascata sem carga
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Aborda a situação em que dois blocos são ligados em cascata sem efeito de carga (o segundo não carrega o primeiro).
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Mostra que, quando a impedância de entrada do segundo bloco é infinita (por exemplo, com um amplificador de isolamento), o modelo global é o produto directo dos modelos individuais:
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Exemplifica a prática comum de usar amplificadores com alta impedância de entrada para evitar o efeito de carga.
Amplificadores operacionais (AmpOps)
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Introduz os AmpOps como componentes fundamentais em sistemas de controlo, sensores e electrónica em geral.
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Explica o funcionamento básico: amplificam a diferença de potencial entre os terminais de entrada, com ganho diferencial muito elevado.
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Características ideais:
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Impedância de entrada infinita (não consome corrente).
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Impedância de saída nula (pode fornecer corrente sem variação de tensão).
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Necessidade de realimentação negativa para funcionamento estável.
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Circuitos com AmpOps
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Amplificador inversor: ganho negativo proporcional a -R₂/R₁.
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Amplificador não inversor: ganho positivo proporcional a 1 + R₂/R₁.
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Malhas de atraso de 1ª ordem: redes RC com AmpOp geram um polo de 1ª ordem no domínio de Laplace.
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Malhas de avanço ou atraso: redes RC específicas configuradas com AmpOps permitem criar compensadores do tipo avanço ou atraso, úteis para ajustar margens de fase e estabilidade.
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Efeito de inversão de sinal: alguns circuitos têm ganho negativo. Mostra-se como se pode adicionar um inversor de sinal para corrigir isso se necessário.
PID com AmpOps
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Apresenta o controlador PID electrónico construído com AmpOps.
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Deduz a função de transferência geral:
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Mostra como definir os parâmetros proporcional (Kp), integral (Ki) e derivativo (Kd) em função das resistências e condensadores no circuito.
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Fornece fórmulas explícitas para determinar tempo integral (Ti) e tempo derivativo (Td) a partir dos componentes.
Tabela de circuitos típicos
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Inclui uma tabela (Table 3–1) com esquemas de circuitos com AmpOps usados como controladores:
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Proporcionais (P)
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Integrais (I)
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Proporcionais–derivativos (PD)
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Proporcionais–integrais (PI)
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Proporcionais–integrais–derivativos (PID)
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Compensadores de avanço, atraso e avanço-atraso
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Para cada configuração, mostra a função de transferência correspondente em termos dos componentes eléctricos (resistências e condensadores).