Capítulo 31 – Lei de Faraday
31.1 – Lei da Indução de Faraday
Esta secção introduz a descoberta de Faraday de que um campo magnético variável no tempo pode induzir uma corrente eléctrica num circuito. Experiências simples com uma espira de fio e um íman mostram que mover o íman em relação à espira gera uma corrente detectável. A corrente só aparece quando há variação do fluxo magnético (e não com campos magnéticos constantes), sendo chamada de corrente induzida, e surge devido a uma força electromotriz (fem) induzida.
A lei de Faraday quantifica este fenómeno:
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Para uma espira:
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Para uma bobina com espiras:
O fluxo magnético é dado por:
e pode variar:
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pela mudança do campo magnético ,
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pela mudança da área da espira,
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pela mudança da orientação entre o campo e a espira.
Apresentam-se aplicações práticas como o interruptor de circuito por falha à terra (GFCI) e as bobinas de captação de guitarras eléctricas, que funcionam com base na indução de fem por variação de fluxo magnético.
31.2 – Fem de Movimento
Esta secção analisa a indução de fem em condutores em movimento dentro de campos magnéticos constantes. Um condutor rectilíneo que se move perpendicularmente a um campo magnético sofre uma separação de cargas devido à força magnética sobre os electrões, criando um campo eléctrico interno e uma diferença de potencial:
Quando este condutor faz parte de um circuito fechado (por exemplo, uma barra a deslizar sobre calhas condutoras), há corrente induzida e podem aplicar-se as leis de Faraday e da conservação de energia:
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A fem induzida é:
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A corrente induzida:
A força necessária para manter a barra a mover-se com velocidade constante deve compensar a força magnética (contrária ao movimento), garantindo conservação da energia:
Exemplos analisados incluem a barra deslizante e uma barra rotativa num campo magnético, mostrando como a velocidade angular ou linear influencia a fem gerada.
31.3 – Lei de Lenz
A Lei de Lenz dá ao sinal negativo da Lei de Faraday um significado físico: a corrente induzida flui de forma a opor-se à variação do fluxo magnético que a causou. Isto está intimamente ligado ao princípio da conservação da energia.
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Se o fluxo aumenta, a corrente induzida cria um campo que se opõe ao aumento.
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Se o fluxo diminui, a corrente induzida cria um campo que tenta manter o fluxo original.
Exemplos incluem:
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A barra a mover-se numa calha com campo constante: se o fluxo aumenta, a corrente opõe-se, gerando uma força contrária ao movimento.
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Um íman a aproximar-se de uma espira: o sentido da corrente depende de se o fluxo está a aumentar ou diminuir.
Apresenta-se também o paradoxo energético: se a corrente não se opusesse à variação de fluxo, poder-se-ia criar energia a partir do nada, violando a conservação da energia. Assim, a lei de Lenz garante que a energia seja conservada.
31.4 – Fem Induzida e Campos Eléctricos
Nesta secção, explora-se como um campo magnético variável no tempo induz um campo eléctrico, mesmo na ausência de um fio condutor. A corrente induzida numa espira metálica é causada por um campo eléctrico induzido que age sobre as cargas no fio. Este campo não é conservativo (ao contrário do campo electrostático), pois o trabalho realizado ao mover uma carga à volta de um percurso fechado não é zero.
A indução do campo eléctrico é consequência directa da Lei de Faraday. Considerando uma espira circular de raio , quando o fluxo magnético varia com o tempo, surge um campo eléctrico , tangente à espira, tal que:
O campo eléctrico induzido depende da variação temporal do fluxo e não da presença de cargas. Esta propriedade é fundamental para a compreensão das ondas electromagnéticas, onde campos eléctricos e magnéticos se induzem mutuamente.
31.5 – Geradores e Motores
Aqui são descritos os princípios de funcionamento dos geradores e motores eléctricos, ambos baseados na Lei de Faraday.
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Geradores de corrente alternada (AC): um laço de fio é feito rodar num campo magnético, o que provoca uma variação periódica do fluxo e, consequentemente, uma fem sinusoidal:
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Geradores de corrente contínua (DC): usam um comutador que inverte as ligações a cada meia rotação, de forma a manter a polaridade constante, embora a tensão varie em valor.
Os motores eléctricos funcionam de forma inversa: recebem energia eléctrica e convertem-na em trabalho mecânico. À medida que o motor acelera, gera uma força contra-electromotriz que reduz a corrente de entrada.
Exemplo aplicado: quando um motor é bloqueado (por exemplo, numa serra), a corrente aumenta significativamente, o que pode danificar o equipamento devido ao aquecimento excessivo.
31.6 – Correntes de Foucault
As correntes de Foucault são correntes circulares induzidas em massas metálicas (não em fios) em movimento através de campos magnéticos. Estas correntes criam campos magnéticos opostos à variação que as gerou, de acordo com a Lei de Lenz.
Exemplo clássico: uma placa metálica a oscilar entre os polos de um íman. As correntes de Foucault geram forças magnéticas que travam o movimento, levando eventualmente à paragem. Se a placa tiver cortes ou ranhuras, estas correntes são suprimidas, reduzindo o efeito de travagem.
Aplicações:
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Travões electromagnéticos em comboios e metros.
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Dispositivos de segurança (ex. serras) que usam estas correntes para parar rapidamente peças móveis.
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Para reduzir perdas energéticas (aquecimento), as peças condutoras em transformadores e motores são laminadas, ou seja, feitas em camadas finas separadas por materiais isolantes.
Resumo
A Lei de Faraday estabelece que a fem induzida é proporcional à variação temporal do fluxo magnético:
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A Lei de Lenz indica que a corrente induzida opõe-se à causa que a gera, garantindo a conservação da energia.
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Um campo magnético variável no tempo pode induzir um campo eléctrico não conservativo.
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A fem de movimento é induzida quando um condutor se move num campo magnético:
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Geradores e motores baseiam-se na variação do fluxo magnético e no aproveitamento da energia eléctrica e mecânica.
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As correntes de Foucault são efeitos secundários importantes, podendo ser úteis (travagem) ou indesejáveis (perdas energéticas).