Capítulo 3 - Cálculo Vectorial
3.1 Introdução
Esta secção introduz o conceito de cálculo vetorial, isto é, a diferenciação e a integração de vetores.
Nos capítulos anteriores, o autor abordou operações básicas com vetores (adição, subtração, multiplicação) e a sua aplicação em diferentes sistemas de coordenadas. Agora, o objetivo é desenvolver as ferramentas matemáticas que servirão de base para expressar conceitos fundamentais em eletromagnetismo e noutras áreas da matemática.
O autor alerta que, à primeira vista, alguns estudantes podem não perceber a utilidade prática destes conceitos, mas recomenda que se concentrem primeiro na aprendizagem das técnicas, pois as aplicações surgirão em capítulos seguintes.
3.2 Comprimento, Área e Volume Diferenciais
Esta secção apresenta os elementos diferenciais (de comprimento, área e volume) em três sistemas de coordenadas fundamentais: cartesiano, cilíndrico e esférico.
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No sistema cartesiano:
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O deslocamento diferencial é .
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As áreas diferenciais (normais às superfícies) são combinações de dois diferenciais, como , etc.
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O volume diferencial é .
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No sistema cilíndrico:
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O deslocamento diferencial é .
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As áreas diferenciais incluem termos como .
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O volume diferencial é .
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No sistema esférico:
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O deslocamento diferencial é .
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As áreas diferenciais incluem expressões como .
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O volume diferencial é .
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O autor enfatiza que basta memorizar o deslocamento diferencial , porque a partir dele se obtêm facilmente os elementos de área e de volume. A secção inclui exemplos práticos de cálculo de comprimentos, áreas e volumes utilizando estes diferenciais.
3.3 Integrais de Linha, de Superfície e de Volume
Aqui o autor estende o conceito de integral para situações em que o integrando é um vetor.
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Integral de linha:
Define-se como , ou seja, a soma do componente tangencial de um campo vetorial ao longo de um percurso. Um exemplo físico é o trabalho realizado por uma força ao mover uma partícula ao longo de uma trajetória. Se o caminho for fechado, fala-se em circulação do campo. -
Integral de superfície (fluxo):
Representa a quantidade de campo que atravessa uma superfície. É dado por , sendo um vetor normal à superfície. Para superfícies fechadas, calcula-se o fluxo líquido que sai de um volume. -
Integral de volume:
Para uma grandeza escalar distribuída num volume, o integral é , representando, por exemplo, a massa total se fosse densidade de massa.
Cada integral tem interpretação física diferente consoante o tipo de grandeza considerada (força, fluxo, densidade, etc.).
3.4 Operador Delta
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O operador delta (∇), também chamado operador diferencial vetorial ou operador gradiente, é uma ferramenta central do cálculo vetorial.
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Em coordenadas cartesianas, é definido como:
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Apesar de ter a forma de um vetor, ∇ não é um vetor em si, mas um operador que, aplicado a diferentes funções, gera novos campos:
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Gradiente de um escalar : → resulta num vetor.
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Divergência de um vetor : → resulta num escalar.
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Rotacional de um vetor : → resulta num vetor.
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Laplaciano de um escalar : → resulta num escalar.
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O operador ∇ também pode ser expresso em coordenadas cilíndricas e esféricas, com expressões específicas que dependem das transformações entre sistemas de coordenadas.
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É uma ferramenta unificada que simplifica o tratamento matemático de campos em eletromagnetismo.
3.5 Gradiente de um Escalar
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O gradiente de um campo escalar é um vetor que aponta na direção de maior variação de e cujo módulo indica a taxa máxima de variação por unidade de comprimento.
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A definição matemática é:
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Propriedades importantes:
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O módulo de indica a taxa máxima de variação de .
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A direção de é a da variação mais rápida.
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é sempre perpendicular às superfícies de nível constante de .
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A derivada de ao longo de uma direção é dada por .
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Se um campo vetorial for derivado de um escalar por , então é chamado de potencial escalar de .
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O gradiente pode ser expresso também em coordenadas cilíndricas e esféricas, com fórmulas adaptadas.
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Exemplos práticos mostram como calcular o gradiente em diferentes sistemas e como aplicá-lo para obter direções de variação máxima de grandezas físicas (como temperatura, potencial elétrico, etc.).
3.6 Divergência de um Vetor e Teorema da Divergência
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A divergência mede o grau em que um campo vetorial “sai” de um ponto (como uma fonte) ou “entra” num ponto (como um sumidouro).
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Definição matemática:
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Em coordenadas cartesianas:
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Interpretação física:
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Divergência positiva → o campo espalha-se (fonte).
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Divergência negativa → o campo converge (sumidouro).
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Divergência nula → fluxo equilibrado (sem fonte nem sumidouro).
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Em coordenadas cilíndricas e esféricas, a divergência assume formas adaptadas ao sistema.
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Teorema da Divergência (ou de Gauss-Ostrogradsky):
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Ou seja, o fluxo total que atravessa a superfície fechada é igual ao integral da divergência de no volume por ela delimitado.
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Este teorema é de enorme importância prática, porque muitas vezes é mais simples calcular o integral de volume do que o integral de superfície.
3.7 Rotacional de um Vetor e Teorema de Stokes
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O rotacional de um campo vetorial mede a tendência de rotação ou de circulação desse campo em torno de um ponto.
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Definição matemática:
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Interpretação física:
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O módulo do rotacional dá a circulação máxima por unidade de área de .
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A direção do rotacional é normal à área considerada e é determinada pela regra da mão direita.
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Assim, o rotacional indica como e em que direção um campo “gira” em torno de um ponto.
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Em coordenadas cartesianas:
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Em coordenadas cilíndricas e esféricas, as expressões são mais complexas, mas obtidas a partir de transformações vetoriais.
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Propriedades principais do rotacional:
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O rotacional de um vetor é sempre um vetor.
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.
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.
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O divergente do rotacional é sempre nulo: .
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O rotacional do gradiente de um escalar também é sempre nulo: .
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Teorema de Stokes:
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Relaciona a circulação de um campo ao longo de uma curva fechada com o integral de superfície do rotacional sobre a superfície delimitada por .
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Tal como o teorema da divergência, este é um resultado fundamental, pois muitas vezes é mais fácil calcular o integral de superfície do que o de linha (ou vice-versa).
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Aplicações práticas: muito usado em eletromagnetismo (ex.: equações de Maxwell), dinâmica de fluidos e teoria de campos em geral.
3.8 Laplaciano de um Escalar
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O Laplaciano é um operador escalar definido como a divergência do gradiente de um escalar:
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Em coordenadas cartesianas:
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Em coordenadas cilíndricas:
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Em coordenadas esféricas:
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Propriedades e aplicações:
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O Laplaciano de um escalar é sempre outro escalar.
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Um campo escalar é dito harmónico se satisfaz . Esta equação é conhecida como Equação de Laplace e aparece frequentemente em eletrostática, condução de calor e dinâmica de fluidos.
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Soluções da equação de Laplace são geralmente combinações de funções seno e cosseno (ou harmónicas).
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Laplaciano de um vetor:
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Também se pode definir , mas neste caso:
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Em coordenadas cartesianas, o Laplaciano de um vetor é simplesmente o Laplaciano de cada componente aplicado separadamente:
Resumo
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O cálculo vetorial lida com diferenciação e integração de vetores.
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O comprimento diferencial em coordenadas cartesianas é . Em coordenadas cilíndricas é . Em coordenadas esféricas é .
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A área diferencial em coordenadas cartesianas pode ser expressa como: , , ou . Em coordenadas cilíndricas: , , ou . Em coordenadas esféricas: , , ou .
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O volume diferencial em coordenadas cartesianas é . Em coordenadas cilíndricas é . Em coordenadas esféricas é .
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O integral de linha de um vetor ao longo de um caminho é definido como:
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O integral de superfície (ou fluxo) de um vetor através de uma superfície é definido como:
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O integral de volume de um escalar é definido como:
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O operador diferencial vetorial (delta) é definido como:
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O gradiente de um escalar é dado por:
O gradiente é perpendicular à superfície de nível de .
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A divergência de um vetor é dada por:
O Teorema da Divergência afirma que:
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O rotacional de um vetor é dado por:
O Teorema de Stokes afirma que:
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O Laplaciano de um escalar é dado por:
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O Laplaciano de um vetor é definido como: