Capítulo 4 - Campo Eletroestático
Secção 4.1 – Introdução
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O estudo começa pela definição da carga elétrica, considerada a fonte fundamental de todos os fenómenos eletromagnéticos.
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A carga é uma propriedade inerente da matéria, existindo em duas formas: positiva e negativa.
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A unidade padrão de medida da carga é o coulomb (C).
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As leis fundamentais associadas à carga elétrica são:
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Lei da conservação da carga: a carga não pode ser criada nem destruída, apenas transferida.
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Lei da quantização da carga: a carga ocorre sempre em múltiplos inteiros da carga elementar do eletrão/protão ().
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O capítulo tem como objetivo introduzir os conceitos de campo elétrico e potencial elétrico, a partir do comportamento das cargas.
Secção 4.2 – Lei de Coulomb e Intensidade do Campo
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A Lei de Coulomb descreve a força entre duas cargas puntiformes:
onde:
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são as cargas,
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é a distância entre elas,
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é a permissividade do meio,
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é o vetor unitário da direção da linha que une as cargas.
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A força é repulsiva se as cargas têm o mesmo sinal e atrativa se têm sinais opostos.
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Define-se o campo elétrico como a força por unidade de carga de teste:
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Assim, o campo elétrico devido a uma carga puntiforme é:
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Esta secção também aborda o conceito de intensidade do campo, mostrando que o campo elétrico é um campo vetorial que varia no espaço, com direção radial a partir da carga fonte.
Secção 4.3 – Campos Elétricos Devidos a Distribuições Contínuas de Carga
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Muitas situações práticas envolvem distribuições de carga contínuas em vez de cargas puntiformes.
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Consideram-se três tipos de densidade de carga:
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Linear () [C/m]: carga distribuída ao longo de um fio ou linha.
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Superficial () [C/m²]: carga distribuída sobre uma superfície.
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Volumétrica () [C/m³]: carga distribuída no volume.
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A intensidade de campo resultante é obtida através da integração da contribuição de cada elemento diferencial de carga:
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Para carga linear:
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Para carga superficial:
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Para carga volumétrica:
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A secção fornece exemplos de aplicação prática destes cálculos, mostrando como obter o campo elétrico gerado por distribuições de carga em diferentes geometrias.
Secção 4.4 – Densidade de Fluxo Elétrico
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O fluxo elétrico associado ao campo pode ser definido, mas para maior utilidade em eletrostática introduz-se o conceito de densidade de fluxo elétrico .
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Define-se:
onde é a permissividade do vazio.
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é medido em coulombs por metro quadrado (C/m²) e, por razões históricas, também é chamado deslocamento elétrico.
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A quantidade de fluxo elétrico que atravessa uma superfície é dada por:
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A vantagem de em relação a é que depende apenas da carga e da posição, sendo independente do meio.
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Todas as expressões para derivadas da Lei de Coulomb (seções anteriores) podem ser reescritas para , bastando multiplicar por .
Secção 4.5 – Lei de Gauss (Equação de Maxwell)
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A Lei de Gauss estabelece que:
“O fluxo elétrico total que atravessa uma superfície fechada é igual à carga total no interior dessa superfície.”
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Em termos matemáticos:
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Usando o teorema da divergência, esta lei pode ser escrita na forma diferencial:
onde é a densidade de carga volumétrica.
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Assim, a Lei de Gauss apresenta-se em duas formas:
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Integral: relaciona o fluxo de numa superfície fechada com a carga total no interior.
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Diferencial: relaciona a divergência de num ponto com a densidade de carga nesse ponto.
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Observações importantes:
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A Lei de Gauss é equivalente à Lei de Coulomb (uma pode ser derivada da outra).
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É válida sempre, mas só é útil na prática quando há simetria na distribuição de cargas (esférica, cilíndrica, ou planar).
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Quando a distribuição de carga não é simétrica, a lei continua válida, mas calcular requer a aplicação direta da Lei de Coulomb.
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Secção 4.6 – Aplicações da Lei de Gauss
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A secção mostra como aplicar a Lei de Gauss para obter campos elétricos em distribuições de carga simétricas.
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O procedimento geral é:
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Identificar se existe simetria (esférica, cilíndrica, ou planar).
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Escolher uma superfície gaussiana que respeite essa simetria.
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Avaliar o fluxo de nessa superfície.
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Igualar ao total de carga encerrada.
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Casos práticos apresentados:
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Carga puntiforme: usa-se uma superfície esférica. O resultado confirma .
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Linha infinita de carga: escolhe-se uma superfície cilíndrica. Obtém-se , ou seja, o campo decresce inversamente com a distância radial.
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Folha infinita de carga: usa-se uma caixa (paralelepípedo) atravessada pelo plano da carga. O campo resultante é constante e perpendicular à superfície, independentemente da distância.
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Esfera carregada uniformemente:
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Para (dentro da esfera), .
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Para (fora da esfera), , como se toda a carga estivesse concentrada no centro.
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Secção 4.7 – Potencial Elétrico
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Até aqui o campo elétrico foi obtido pela Lei de Coulomb ou pela Lei de Gauss.
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Outra forma é através do potencial escalar elétrico (V), que simplifica os cálculos porque trabalha com grandezas escalares em vez de vetores.
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O trabalho necessário para mover uma carga de um ponto para um ponto num campo elétrico é:
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O potencial elétrico entre e é a energia potencial por unidade de carga:
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Propriedades importantes:
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O potencial é independente do caminho, apenas depende dos pontos inicial e final.
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A unidade é o volt (V), equivalente a joule por coulomb.
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Costuma-se definir o potencial de referência como zero no infinito.
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Para uma carga puntiforme :
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Para várias cargas ou distribuições contínuas (linear, superficial, volumétrica), o potencial é obtido pela soma/integral das contribuições de cada elemento de carga.
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O potencial é particularmente útil porque evita lidar diretamente com vetores ao calcular .
Secção 4.8 – Relação entre e — Equação de Maxwell
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O campo elétrico é um campo conservativo, ou seja:
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Isto significa que o trabalho líquido feito ao mover uma carga numa trajetória fechada é zero.
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Aplicando o teorema de Stokes, obtém-se a forma diferencial:
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Esta é a segunda equação de Maxwell para campos eletrostáticos.
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Como consequência, o campo elétrico pode ser escrito como o gradiente negativo do potencial:
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O sinal negativo indica que o campo elétrico aponta sempre no sentido em que o potencial diminui.
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Esta relação mostra que todo o campo eletrostático pode ser descrito por uma função escalar única, o que simplifica bastante os cálculos.
Secção 4.9 – Dipolo Elétrico e Linhas de Fluxo
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Um dipolo elétrico consiste em duas cargas de mesma magnitude mas sinais opostos ( e ) separadas por uma pequena distância .
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O momento dipolar elétrico é definido como:
apontando da carga negativa para a carga positiva.
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O potencial devido a um dipolo (para ) é:
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O campo elétrico de um dipolo é obtido pelo gradiente do potencial:
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Comparações importantes:
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Campo de uma carga puntiforme (monopolo): decresce como .
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Campo de um dipolo: decresce mais rapidamente, como .
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Potencial de uma carga: varia como .
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Potencial de um dipolo: varia como .
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Linhas de fluxo: as linhas do campo de um dipolo mostram a atração entre cargas opostas, concentrando-se da carga positiva para a negativa.
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Os dipolos são muito importantes porque muitas moléculas (como a água) podem ser modeladas como dipolos, e os campos dipolares têm grande relevância em física e engenharia.
Secção 4.10 – Densidade de Energia em Campos Eletrostáticos
Nesta secção estuda-se a energia armazenada num sistema de cargas elétricas.
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Para determinar a energia de um conjunto de cargas, calcula-se o trabalho necessário para as juntar (trazer cada carga do infinito até à sua posição final).
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No caso de n cargas pontuais, a energia total é dada por:
onde é a carga e o potencial no ponto onde está localizada.
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Se, em vez de cargas discretas, houver uma distribuição contínua de carga, a soma transforma-se em integral:
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Linha:
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Superfície:
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Volume:
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Como , a expressão pode ser manipulada até chegar a uma forma mais prática em termos do campo elétrico:
Daqui surge a definição de densidade de energia eletrostática (energia por unidade de volume):
Ou seja, a energia está armazenada no campo elétrico criado pela distribuição de cargas.
A secção termina com exemplos:
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Cálculo da energia de um sistema de três cargas pontuais.
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Determinação do potencial e energia armazenada numa distribuição esférica de carga com simetria radial.
Resumo do Capítulo
O capítulo reúne os principais conceitos dos campos eletrostáticos:
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Leis fundamentais – Lei de Coulomb e Lei de Gauss.
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Coulomb descreve a força entre cargas pontuais.
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A intensidade do campo elétrico é definida como a força por unidade de carga.
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Distribuições contínuas de carga – O cálculo da carga total e do campo resultante pode ser feito integrando a densidade linear, superficial ou volumétrica.
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Casos especiais – Campos gerados por:
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Linha infinita de carga.
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Folha infinita de carga.
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Fluxo elétrico e densidade de fluxo – Relação entre e no vazio: .
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A lei de Gauss afirma que o fluxo de através de uma superfície fechada é igual à carga dentro da superfície.
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Esta é a primeira equação de Maxwell (no eletroestático).
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Potencial elétrico – O trabalho para mover uma carga no campo:
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O potencial devido a uma carga pontual é .
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O potencial para distribuições contínuas obtém-se por integração.
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Se o campo for conhecido, o potencial pode ser obtido via .
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Campo conservativo – O campo eletrostático é conservativo:
Esta é a segunda equação de Maxwell (no eletroestático).
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Relação entre e – .
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Dipolo elétrico – O potencial de um dipolo é:
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Superfícies equipotenciais e linhas de fluxo – As linhas de campo são sempre perpendiculares às superfícies equipotenciais.
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Energia armazenada –
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Para cargas discretas: .
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Para distribuições contínuas:
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Assim, conclui-se que a energia eletrostática não está “nas cargas”, mas sim armazenada no campo elétrico.