Capítulo 30 – Fontes de Campo Magnético
30.1 – A Lei de Biot–Savart
Esta secção introduz a lei de Biot–Savart, que permite calcular o campo magnético produzido por um elemento de corrente. Baseia-se em observações experimentais feitas por Biot e Savart em 1820:
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O campo magnético elementar gerado por um segmento de fio com corrente é:
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Perpendicular tanto a como ao vector unitário , que aponta do elemento para o ponto de observação.
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Proporcional a , ao comprimento do elemento e ao seno do ângulo entre e .
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Inversamente proporcional ao quadrado da distância .
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A expressão matemática é:
com (permeabilidade do vácuo).
Para obter o campo total , integra-se sobre toda a distribuição de corrente:
Exemplos importantes:
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Fio rectilíneo infinito: resulta num campo , com a distância ao fio.
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Segmento de fio curvo (arco): campo no centro .
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Espira circular: no eixo da espira o campo é .
30.2 – Força Magnética entre Dois Condutores Paralelos
Esta secção mostra que dois condutores paralelos com corrente exercem força um sobre o outro devido aos campos magnéticos que cada um gera:
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O campo criado por um fio rectilíneo é:
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A força magnética por unidade de comprimento sobre o segundo fio (separado por uma distância ) é:
Conclusões importantes:
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Correntes no mesmo sentido → força atractiva.
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Correntes em sentidos opostos → força repulsiva.
Esta interacção é a base da definição do ampere: duas correntes de 1 A em fios paralelos separados por 1 metro exercem uma força de .
Exemplo 30.4: determina o valor de corrente necessário nos fios do solo para levitar um terceiro fio (com corrente oposta) através do equilíbrio entre força magnética e peso.
30.3 – Lei de Ampère
A Lei de Ampère fornece uma forma alternativa à de Biot–Savart para calcular o campo magnético em casos com elevada simetria:
Esta equação afirma que a integral de linha do campo magnético ao longo de um caminho fechado é proporcional à corrente total que atravessa a superfície delimitada por esse caminho.
Aplicações típicas:
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Fio rectilíneo longo: permite derivar novamente .
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Fios com corrente uniforme: campo interno varia com (proporcional), campo externo varia como .
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Toroides: dentro do toróide, e zero fora.
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Solenoide ideal: campo uniforme no interior, dado por:
onde é o número de espiras por unidade de comprimento.
30.4 – O Campo Magnético de um Solenóide
Um solenóide é um fio enrolado em forma de hélice, normalmente com muitas espiras, por onde circula uma corrente. Esta configuração produz um campo magnético quase uniforme no seu interior.
Características do campo magnético:
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As linhas de campo são paralelas e densamente espaçadas no interior → campo forte e quase uniforme.
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No exterior, o campo é fraco e disperso, semelhante ao de um íman de barra.
Campo magnético de um solenóide ideal:
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Num solenóide longo, com espiras apertadas, o campo interior é:
onde:
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é a permeabilidade do vazio,
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é o número de espiras por unidade de comprimento (),
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é a corrente no solenóide.
Observações:
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Esta fórmula é válida no centro do solenóide (longe das extremidades).
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À medida que o solenóide se torna mais comprido, o campo no interior torna-se mais uniforme e o campo exterior tende para zero.
30.5 – A Lei de Gauss para o Eletromagnetismo
Esta secção introduz a lei de Gauss para o Eletromagnetismo, análoga à lei de Gauss para o campo eléctrico, mas com uma diferença fundamental:
Isto significa que o fluxo magnético total através de uma superfície fechada é sempre zero.
Implicações:
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As linhas de campo magnético não têm princípio nem fim, formando laços fechados.
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Isto reflete o facto de não existirem monopólos magnéticos (ou seja, nunca foram observadas cargas magnéticas isoladas).
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As linhas de campo que entram numa superfície fechada são sempre equilibradas pelas que saem.
30.6 – Magnetismo na Matéria
Nesta secção explora-se a origem do magnetismo nos materiais, com base nos momentos magnéticos atómicos, que resultam:
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Do movimento orbital dos electrões.
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Do spin intrínseco dos electrões (propriedade quântica).
Momento Magnético Orbital
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Um electrão em órbita comporta-se como uma espira de corrente.
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O momento magnético associado é proporcional ao momento angular orbital:
mas com sentido oposto ao de devido à carga negativa do electrão.
Momento Magnético de Spin
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Mesmo sem se mover em órbita, o electrão possui um momento magnético devido ao seu spin.
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Este é dado por:
onde é o magnetão de Bohr.
Comportamento dos materiais magnéticos
Os materiais classificam-se segundo a resposta ao campo magnético:
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Ferromagnéticos:
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Materiais como o ferro e o níquel têm domínios magnéticos onde os momentos estão alinhados.
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Em ausência de campo externo, os domínios estão desordenados → o material não está magnetizado.
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Com campo externo, os domínios alinham-se → o material fica magnetizado permanentemente.
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Acima da temperatura de Curie, perdem o ferromagnetismo e tornam-se paramagnéticos.
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Paramagnéticos:
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Átomos com momentos magnéticos permanentes, mas sem interação forte entre si.
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Em campo externo, os momentos tendem a alinhar-se, mas o movimento térmico dificulta este alinhamento → magnetização fraca e temporária.
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Diamagnéticos:
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Ocorre em todos os materiais, mas é geralmente fraco.
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Um campo externo induz correntes atómicas que criam um campo oposto ao campo aplicado → efeito repulsivo.
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Em materiais supercondutores, ocorre o efeito de Meissner, onde o campo magnético é completamente expulso do interior do material.
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Resumo
O capítulo aborda as fontes dos campos magnéticos, com foco nos seguintes pontos principais:
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A lei de Biot–Savart permite calcular o campo magnético gerado por elementos de corrente.
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Dois condutores paralelos com corrente exercem forças magnéticas entre si, fundamento para a definição do ampere.
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A lei de Ampère fornece uma forma simplificada de calcular o campo magnético em geometrias simétricas.
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Em configurações especiais como solenóides e toroides, os campos magnéticos podem ser intensos e previsíveis.
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A lei de Gauss para o magnetismo mostra que não existem monopólos magnéticos: o fluxo magnético através de qualquer superfície fechada é zero.
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O magnetismo na matéria tem origem em momentos magnéticos atómicos (orbitais e de spin), levando a diferentes tipos de comportamento: ferromagnetismo, paramagnetismo e diamagnetismo.