Capítulo 28 – Corrente contínua
Secção 28.1 – Força Electromotriz (f.e.m.)
Nesta secção introduz-se o conceito de força electromotriz (f.e.m.) como a diferença de potencial máxima que uma fonte (por exemplo, uma bateria) pode fornecer entre os seus terminais, denotada por . Embora o termo “força” seja histórico — pois a f.e.m. não é uma força mas sim uma tensão — pode entender-se a fonte de f.e.m. como uma “bomba de cargas” que eleva as cargas do potencial mais baixo para o mais alto dentro da bateria.
Num circuito real, a bateria apresenta uma resistência interna , de modo que a tensão nos terminais, , difere da f.e.m. quando há corrente. A relação fundamental é
onde é a corrente do circuito. Assim, quando o circuito está em circuito aberto (), (tensão em vazio), mas quando a corrente circula, parte da energia é dissipada internamente na bateria.
Combinando-se com a lei de Ohm para a resistência externa , obtém-se
Multiplicando por vemos ainda que a potência total fornecida pela fonte, , divide-se entre no circuito externo e na resistência interna. Para maximizar a potência útil, deve minimizar-se .
Secção 28.2 – Resistências em Série e em Paralelo
Descreve-se primeiro a montagem em série, onde partilham a mesma corrente . A tensão total divide-se pelas resistências, resultando numa resistência equivalente
sempre maior do que qualquer resistência individual. Uma falha em série causa circuito aberto e interrompe toda a corrente.
Em seguida analisa-se a montagem em paralelo, em que todos as resistências estão sujeitos à mesma tensão mas a corrente divide-se em cada ramo. A resistência equivalente satisfaz
sendo sempre inferior à mais pequena das resistências. Neste esquema, uma falha num ramo não impede a corrente nos restantes.
São também discutidas aplicações práticas: em paralelo, cada aparelho doméstico opera independentemente sob a mesma tensão; em série, como nos pequenos enfeites de Natal, usa-se um jumper interno para manter o circuito mesmo quando um filamento queima, mas isso aumenta a corrente nos restantes.
Secção 28.3 – Leis de Kirchhoff
Para circuitos mais complexos, que não se reduzem a simples séries ou paralelos, aplicam-se as duas leis de Kirchhoff:
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Lei dos Nós: a soma algébrica das correntes num nó (ponto de ramificação) é zero, refletindo a conservação de carga:
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Lei das Malhas: ao percorrer uma malha fechada, a soma das diferenças de potencial é nula, expressando a conservação de energia:
Para aplicar, escolhe-se direções arbitrárias para as correntes e percorrem-se laços assumindo sinal positivo para subidas de potencial (por exemplo, atravessar a f.e.m. de – para +) e negativo para descidas (queda no sentido da corrente). Resolve-se então o sistema de equações lineares obtido, onde soluções negativas indicam correntes no sentido oposto ao assumido.
Este método geral permite analisar circuitos de múltiplos ramos e fontes, sendo essencial em casos de malhas e nós em número maior do que os casos tratáveis apenas com combinações série/paralelo.
Secção 28.4 – Circuitos RC
Num circuito RC em série, uma resistência R e um condensador C estão ligados a uma fonte de emf através de um interruptor. Existem dois casos distintos:
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Carregamento do condensador
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No instante em que o interruptor é colocado na posição de carga (), o condensador está descarregado () e a corrente inicial máxima é
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À medida que o condensador acumula carga, a diferença de potencial cresce, reduzindo a corrente segundo a equação diferencial
Integrando, obtém-se
A constante de tempo do circuito é
e caracteriza o decaimento exponencial: após , a carga atinge 63,2 % de e a corrente cai para 36,8 % de .
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Descarregamento do condensador
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Se, após carregado, o interruptor passa para a posição de descarga num circuito sem fonte de emf, a equação da malha torna-se
A solução é
onde é a carga inicial do condensador e o sinal negativo em indica que a corrente flui no sentido oposto ao do carregamento.
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Secção 28.5 – Instalações Elétricas Domésticas e Segurança
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Ligação da rede
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A empresa de energia fornece duas fases em paralelo: o fio “vivo” (aprox. 230 V) e o fio neutro (0 V). Um contador mede a energia no fio vivo antes de o circuito interior se subdividir em vários ramos, cada um protegido por fusíveis ou disjuntores dimensionados para a corrente máxima do ramo.
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Num circuito típico, aparelhos como uma torradeira (1 000 W), micro-ondas (1 300 W) e cafeteira (800 W) são ligados em paralelo consomem correntes individuais.
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Proteções e riscos
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Curto-circuito: contacto acidental do fio vivo com terra ou neutro produz corrente muito elevada e dispara o disjuntor, evitando sobreaquecimento.
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Fio de terra: em tomadas de três pinos, o terceiro fio liga a carcaça dos aparelhos à terra; em caso de fuga do fio vivo ao chassis, a corrente prefere esse caminho de baixa resistência, poupando o utilizador a choque elétrico.
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GFCI (Ground-Fault Circuit Interrupter): usado em zonas húmidas (cozinhas, casas de banho), desliga o circuito em <1 ms ao detetar fugas de corrente, protegendo contra choques elétricos.
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Efeitos no corpo humano: correntes ≤5 mA provocam apenas formigueiro; entre 10 mA e 100 mA podem causar contrações musculares e paragem respiratória; correntes de ≈1 A produzem queimaduras graves e podem ser fatais. Contacto com água ou superfícies metálicas aumenta o risco.
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Resumo do Capítulo 28
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Força electromotriz (f.e.m.) : tensão máxima que uma fonte fornece em vazio; tensão aos terminais em carga:
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Resistências em série e paralelo:
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Leis de Kirchhoff:
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Lei dos Nós: .
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Lei das Malhas: em cada malha, com sinais conforme o sentido da corrente e polaridade das fontes.
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Circuitos RC:
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Carregamento:
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Descarregamento:
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